segunda-feira, 15 de junho de 2009

Arthur Rimbaud - Ophélie (traduzido)





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Ofélia

Na onda calma e negra onde dormem estrelas dos céus
A branca Ofélia flutua como um grande lírio,
Flutua lentamente, deitada em longos véus...
— Ouvem-se longe nos bosques da caça os delírios.

Fazem mais de mil anos que a triste Ofélia
Passa, fantasma branco, no longo rio cor da noite.
Mais de mil anos que a sua doce folia
Murmura sua cantiga à brisa da noite.

O vento beija seus seios e como pétalas estende
Seus grandes véus embalados pelas águas levemente;
Os chorões arrepiados choram em seu ombro que prende,
Na sua fronte sonhadora os juncos inclinam docemente.

As Vitórias-Régias amassadas suspiram em volta dela;
Ela acorda às vezes, num álamo adormecido,
Algum ninho, de onde escapa uma assopradela:
— Um canto misterioso parece dos astros caído.

II

Ó pálida Ofélia! bela como a neve!
Sim, morreste, criança, e um rio te leve!
E que os ventos caindo dos grandes montes da Noruega
Te falaram baixinho da áspera liberdade;

É que um sopro, torcendo tua grande cabeleira,
Ao teu espírito sonhador levava estranhos ruídos;
Que teu coração ouvia o canto da Natureza inteira
Nos lamentos da árvore e nos suspiros doídos;

É que a voz dos mares loucos, grito agonizante,
Quebrava teu seio de criança, demais humano e doce;
É que uma manhã de abril, um belo cavaleiro andante,
Um pobre louco, mudo a teus joelhos sentou-se!

Céu! Amor! Liberdade! Que sonho, ó pobre Louca!
Derretias nele como neve com fogo ao lado;
Tuas grandes visões mataram a palavra da tua boca
- E o Infinito terrível assustou teu olho azulado!

III

— E o Poeta diz que aos raios das estrelas
Vens buscar, à noite, flores em delírio,
E que ele viu na água, deitada em longas velas,
A branca Ofélia flutuar, como um grande lírio.

15 de maio 1870.


Foto retirada daqui.

1 comentário:

Li num sonho, comento pelo sonho