quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Átrio da inexistência


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Quão infindáveis são as ondas do mar e mais valiosas que mil vales entre montanhas rochosas! Avistei a glória magnificente dos pássaros a pairar sob nos ares entre crepúsculos ascendentes nos céus a bordar o cenário singular. Céus ásperos que bradam louvores aos deuses, construções graciosas de pequenos milagres numa metamorfose cíclica e interminável, nuvens alvas e leves como daqueles lençóis finos de verão a pousarem no velho colchão.
Que admirável! Que louvável!
Enlevado pela imensidão da paisagem, permaneci recolhido a fitar o nada, imitando o vento e o sol, quando, dentro do quebrantado coração brotou o desejo de ser possuidor da chave de outros tempos. Irresistivelmente atraído, fiz um juramento com palavras que elevaram-se ao céu como fumaça de incenso suave, e no verso de cada sussurro inconstante, caíam águas purificadoras que tornavam-se nulas ao passo que o êxtase do sol amarelo e baço tornava-se mais intenso. Subiram então naquela tarde primaveril de desencontros ocasionais, meus versos não escritos.
Que hei-de fazer com essas frases soltas que preenchem o vazio dos meus pensamentos?
O meu ego e as minhas luxúrias são o que tenho de mais sólido, efetivamente, porque todo o resto é instável e solúvel.
Vi também música nos campos, mas, nessa altura já a minha alma jubilava, e contrariamente ao meu querer, deixava-me irrequieto por causa da sonoridade exaustiva.
Que devaneio! Eu que nunca quis ser escritor mas sim um daqueles artistas bêbados, egocêntricos e ordinários, ao deparar-me com a minha última tentação, emudeci mediante ao alucinante delírio.
Hoje o balbucio dos pensamentos me convence da existência inexistente do meu ser e martiriza a minha comédia, fazendo sucumbir os meus sonhos.
Fim do ato.

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