domingo, 17 de janeiro de 2010

"Baiano que é baiano..."


Heart of Wax
"Baiano que é baiano..." (Texto de Marcelo Torres)

Baiano que é baiano fala porra a cada dez palavras. Ou a cada cinco. Na Bahia, meu rei, porra é tudo, menos a porra improperiamente dita Brasil afora, ops, Brasil adentro.

Como diz o paraibaiano Renato Fechine, porra na Bahia é adjetivo, substantivo, interjeição, adjunto adnominal e advérbio de modo, de tempo, de lugar, de intensidade... da porra toda.


Quando se diz que "O cara mora na casa da porra", se quer dizer ele mora na casa do chapéu, na casa da porra, no gebe-gebe, longe pra caramba, na casa da desgraça.

Baiano que é baiano aguenta comer pelo menos dois acarajés sem passar mal. E ainda fica querendo mais, só que a fila da baiana fica grande e aí bate aquela preguiça...
Se você não sabe, acarajé é hambúrguer de baiano.

O baiano que é baiano mesmo chama as amigas de "ordinárias" e até de “piriguete” e elas não se incomodam, não se sentem ofendidas, sabem que é um tratamento carinhoso.

Em Salvador é comum você olhar para sua amiga (seja ela pretinha, branquela, loira ou morena) e falar “ô, sua nigrinha" - e ela acha o máximo, baianamente.

Baiano não admite cocó nem fulerage pu seu lado. Traduzindo: não gosta de cheiro mole. Entendeu não? Oxente, você ta precisando se matricular num curso de baianês. Urgente!

Pegar um rango, bater um rango e filar a bóia significam a mesma coisa: almoçar, comer, matar quem tá te matando. E quando um baiano fala “Eu tô de rango” significa que tá com fome. É esquisito, mas é a nossa linguagem.

Baiano que é baiano não bebe. Come água. Fica em águas. "Ontem Fulano estava em água dura". Tradução: estava trêbado, pra lá de Maracangalha. Bebeu cuma-porra e chamou Hugo (ou seja, vomitou).

O baiano, quando chama um brother pra beber, fala: "Rumbora cumê água?" Em Salvador ninguém fala balada. Fala reagge. “Bora pu reagge?”. Não importa se a música é axé, samba, pagode, reagge, MPB, rock, forró – tudo, tudo, tudo é reagge.

Todo baiano chama Graça de Gal, Wagner de Wal, Gilberto de Gil...

Para meus amigos, parentes e aderentes, eu não sou Marcelo. Sou Macelo (engole-se o "r"). Sérgio é Sejo, terça-feira é têça-fêra; bar é bá e cerveja é ceveja.

Baiano que é baiano engole a letra d do gerúndio: - Qué qui cê tá FAZENO? -Eu tô DURMINO... Caminhano e cantano e seguino o trio elétrico...

Numa roda de baianos e baianas, quando alguém chega após ter tomado banho, as pessoas falam: "hum, chegou toda tomada banho". Traduzindo: "Ela chegou limpinha, cheirosinha".

Baiano que é baiano sabe o significado da frase: "O cara tava mais enfeitado que jegue na Lavagem do Bonfim". Ou seja, usava excessivo número de adereços e enfeites.

O baiano de Salvador, sabendo ou não falar inglês, sabe que no baianês brown [bráun] não é a forma carinhosa de chamar Carlinhos Brown, o omelete-man. Brown é adjetivo de pessoa brega-espalhafatosa-cafona. É aquele motorista que põe mil adesivos no carro, o cara cheio de colares de prata e pulseiras. "Quecara mais brown!"

Baiano que é baiano sabe o que é "lavar a jega". É se dar bem, levar vantagem, lavar a égua, lavar a burra.

Todo baiano sabe que jante não tem nada a ver com o verbo jantar. Na Bahia, jante significa aro de pneu. "Rodar na jante", no sentido denotativo baiano, é o carro rodar com o pneu vazio ou furado. Mas, na putaria, rodar na jante é transar sem camisinha.

Baiano que é baiano sabe o que é nestante. É "nesse" + "instante", ou seja, daqui a pouco. Baiano fala pra semana (na próxima semana), parumês (no próximo mês) e paruano (no próximo ano). "Paruano sai milhó", diz o dono do bloco de
carnaval.

baiano sabe o que é falar "de hoje a oito". "Meu aniversário é de hoje a oito", ou seja, é daqui a sete dias. Baiano que é baiano fala horas de relógio. "Fiquei duas horas de relógio esperando aquele filadaputa". Em geral, fala-se "horas de relógio" quando se quer enfatizar atraso, demora.

Em Salvador, se você convida alguém prum aniversário ou batizado de boneca, essa pessoa leva uma renca de amigos (renca = muitos, uma catrupia, muita gente).

Baiano fala na moral em vez de por favor... "Pega isso aí pra mim, na moral".

Baiano vive dizendo que Sergipe é o quintal da Bahia... E o sergipano adora a Bahia e os baianos. O baiano de Salvador parece não querer ser nordestino e esculhamba o sotaque de sergipanos, alagoanos, pernambucanos, potiguares, paraibanos... (não deveria ser assim, mas é, infelizmente é).

Baiano chama ônibus de humilhante. “Vou de humilhante”. Ou então é simplesmente carro. “Vou pegar o carro” (pegar o buzu). Taxista em Salvador é taquicêro.

Baiano acha legal quando dizem que ele é "retado"; "boca de zero nove" ou "um pinico cheio". Significa dizer que é um cara legal, porreta, “um cara de fudê”!

O baiano, quando tá indo embora, não diz "tô indo"; ele diz "tô chegando".
Não vai embora, se pica. "Vou me picar" significa "vou cair fora". Em Salvador, “se picar” não é se auto-molestar, é cair fora, ir embora.

Ruma, em Salvador é um bocado de coisas, uma ruma. Uma ruma de papel, uma ruma de gente, uma ruma de bagulho. E ainda tem o verbo rumar. “Rumei-la porra nele”, ou seja, arremessou alguma coisa.
Na Boa Terra, é comum você tratar um amigo, um colega ou um desconhecido como "pai". Se for mulher, "mãe". "Venha, pai". "Venha, mãe". Muitas letras de músicas baianas têm pai e mãe nesse sentido.

Também é comum tratar um desconhecido como "maluco", mas é uma forma carinhosa. "Vai, maluco" (é como o ‘tchê’ do gaúcho, o ‘meu’ do paulistano e o ‘malandro’ do carioca).

Quando se diz "A reunião não teve um pé de pessoa", se quer dizer que a reunião não teve ninguém.

Um pergunta "Colé a de mermo?" e o outro responde: "É niúma".

Todo brasileiro acha que baiano fala a palavra arretado. Não tem o ‘a’, baiano fala ‘retado’. Raul Seixas canta uma música assim: "Não planto capim guiné pra boi abanar rabo/ Tô virado no diabo/ eu tô retado com você. Tá vendo tudo e fica aí parado/ Com cara de veado/ Que viu o caxinguelê".

"Tô retado" significa tô zangado, tô puto da vida.

Mas retado também exerce a função de superlativo: "É bonito que é retado" [ou seja, é muito bonito]. "O cara é retado de feio" [ou seja, é muito feio]. E, quando se diz "Ele é um cara retado", significa dizer "Ele é boa praça".

A Bahia é o único estado que começa com B - de Brasil.
O mapa da Bahia é quase igual ao do Brasil, você já viu?
A Bahia tem a maior costa marítima do País, você sabia?

A Bahia faz divisa com oitos estados. Salvador é a terceira cidade mais populosa do país, você sabia? Não, nem os soteropolitanos sabem disso, pode fazer um teste agora e perguntar qual a cidade mais populosa do país depois de RJ e SP; eles vão dizer que é BH ou Porto Alegre, mas é Salvador.

Tinha um baiano que era magro pra caramba e tinha o apelido de Gordurinha. Ele fez uma música que dizia assim: um baiano é uma coisa divertida; dois baianos, uma boa pedida; três baianos, uma conversa comprida; quatro baianos, um discurso na avenida.
E ainda se diz também que: 1 baiano = um escritor famoso; 2 baianos = uma luta de capoeira; 3 baianos = um grupo de axé; 4 baianos = um terreiro de candomblé.

Todo baiano tem um pouco da sátira de Gregório de Matos (o boca de inferno), da poesia de Castro Alves, da malemolência de Gilberto Gil, do “marquetingue” de Duda e de Nizan, da esperteza de ACM e da candura de Irmã Dulce.
Todo baiano tem régua e compasso. Todo baiano tem um santo, uma ginga de corpo e um rei na barriga. Todo baiano tem o diabo no quadril e tem Deus no coração. Coração e braços que estão sempre abertos.


* Autor: Marcelo Torres, jornalista, baiano, torcedor do Vitória, cronista (marcelocronista@gmail.com) e tem o bloghttp://marcelotorres.zip.net

sábado, 16 de janeiro de 2010

Brevíssima Nota


A adversidade é a maternidade da Emoção, e o Tempo torna-se no joalheiro dos momentos, em cada instante, uma glória, em cada amanhã, um Paraíso, em cada memória, um infindável tesouro da nossa espantosa trajetória pelo volátil Mundo, e é nesse fugaz momento, em que parecemos ser infinitos, que caímos nos dois tremendos vórtices que nos devoram, o audaz Passado, e o oculto e indizível Futuro.

Para um poema do "Paulo Intemporal"


Heart of Wax

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Iluminado


Heart of Wax


"Iluminado, coluna de fogo que arrasa
Nada me separa da glória, da segunda casa
Um dia fui caça, hoje sou caçador
De aprendiz a doutor
Como um parto sem dor
Nova raça ,que não vem pra por panos quentes
Meu brilho na cara não é ouro nos dentes
Cena perfeita, enquanto um levanta o outro deita
Prepara a tua enxada é hora da colheita"

Trecho da música Iluminado do "Rodox", dedicado ao maior guerreiro que conheço e que é o autor desta fotografia. (L)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

View



Materialização do meu mundo. Minha cidade interior.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

domingo, 10 de janeiro de 2010

Balbúcio


Heart o Wax

As horas vagueiam pelo som do vento, querer supremo do meu ego fútil.
Brindar a morte de cavaleiros com o céu fosco, e eu a perecer no breu maldito.
Por várias horas pensei ter vivido isto, e vejo hoje que é uma continuidade do meu existir.
Infundado, vazio, insípido.

Klaus Nomi - "Let me freeze again"






segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

sábado, 2 de janeiro de 2010

E foi assim



O Sol do Poente quebrado
E os ritmos do ocre incandescente
A marcar a ascensão da estrela inteira,
Mapa dos Céus da ancestralidade,
Um deus e mais outro e outro deus ainda,
A semear de signos a Abóbada dos Lugares Sagrados,
E quando a lenda se consumou,
Cumpriu-se o rito,
E a profecia e a voz do ato anunciado.
Pois chegara a hora do repouso.
E foi assim.



Heart of Wax