sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ária


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Palavras inefáveis e versos mudos ecoavam pelo horizonte cor de púrpura.
Ali, com o tempo invertido, o grácil mancebo imerso nas suas improbabilidades, sentia a correr pelas suas mãos o rio límpido como cristal. 
E naquela valsa das águas vivas, sentado numa rocha inerte, tendo o seu coração desconcertado, com o crepúsculo preso na dimensão do infinito, mergulhado em outros tempos, fitava seus grandes olhos castanhos no mover das correntezas.
Os raios de sol, que, ao se refletirem no manto líquido, transformavam o translúcido Rio de Ondas num grande espelhos de sonhos distantes. Parecia que, por uma fração de segundos, a cidadezinha cor de barro, aquela do fim da Bahia, desfazia-se na insipidez do próprio nome.
Barreiras.
No êxtase do verão, com a ingenuidade mor sobre si, em meio àquela natureza primitiva, viu qualquer coisa a girar sobre si mesma, parecendo querer emergir, de modo que, com o relógio parado, esticou os braços onde os dedos compridos e finos experimentaram pela primeira vez a rústica textura daquele coração em pedra.
Mal ele sabia que ofereceria a prenda mais valiosa, qual agora era possuidor, àquele qual ansiou encontrar. Remetia-lhe à memória suas tardes eternas, onde, sentado sob a sombra de goiabeiras secas pelo calor nordestino, rabiscava numa folha de papel, sua lista de desejos.
Dois anos vão-se desde que o rapaz cheio de frémitos e o seu encontraram-se. 
E a pedra, foi um brinde de fim de tarde, com um escrito simples, demasiado verdadeiro para ser repetido.
Há coisas que só se dizem uma vez.


Dedicado ao Luís Alves da Costa

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Li num sonho, comento pelo sonho